sábado, 21 de agosto de 2010

Ritual Político


Ritual Político


Em tua boca

A maldição habita

Enganos e opressão

Residem em teu coração

Olhos que espreitam nas trevas

Emboscadas sórdidas

Rastejas em becos escuros

Imundos teus órgãos

Sementes de incautos

Opressor dos desamparados

Maldito seja!



Ferir-te-ei

Com dores de iniqüidade

Da malicia que concebestes

Sofrerás escárnio

Abrirei uma cova profunda

Lançar-te-ei neste poço

Alcova do mundo

Que cavei – sete palmos!



Do mesmo modo que concebeste

Malícia em teus lábios enganosos

Acima de ti

Amontoarei teus tesouros

Fá-los-ei destroços

Habitarás em profundo abismo

Enterrarei teus ossos!



Nem os vermes hão de te querer

Em desespero, ver-te-ei

A se debater

Fugirão de ti até os micróbios

Nem no fundo da terra

Há seres que desejem

Comer-te



Que ironia

Aposta que com esta

Você não contaria

Mas a Criação é perfeita...

Nem verme deseja teu cerne!



Rose de Castro

Escritor, Ghost Writer e Poeta





quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

MORFEMA PRESO

A solidão me corrói
E a noite cai
Está tudo repleto de advérbios
E adjetivos
No dicionário mudo

Não me detenho ao verbo
Prosto-me
Perante o coração
O sufixo imita a razão:
Mente
Dominadamente
Dominada a mente
Que não entende
Porque o coração sente
E as mãos: tremem

O coração ressente
Em sensação presente
Inspiro profundamente
Não há palavra que agüente
Não há lágrimas ardentes
Sem classificação
Que se apresente

Sem deleite
Fatidicamente
Volto ao final

Apenas um desejo
Que se unam adjetivo e advérbio
Sufixo e prefixo
Que nada...
Tudo fica rasgado
No véu das palavras
De-form-ado

Conformado
O morfema fica preso
Desalento
Meu final...

Rose de Castro
A ‘POETA’

Poesia Social

MUTILAÇÃO

TEMPO DE MUTILAÇÃO
A noite se abre
Constelação de signos
Escrita silêncio que canta
Séculos, gerações, eras
Sílabas que alguém diz
Palavras que ninguém ouve
Ecos chamando
Labirinto
Olhos se afastam
Perdidas todas as batalhas

Abriu-se o minuto em dois
[Li signos na testa desse instante]
Os vivos estão vivos
Andam, voam, amadurecem, explodem
Os mortos estão vivos
O vento os agita, os dispersa
Cachos de sombras que caem entre as pernas da noite
A cidade abre-se como um coração
Como um figo – a flor que é fruto
Mais desejo que encarnação
Encarnação do desejo

Algo se prepara
Nada se diz exceto o indizível
Este mesmo inverno vacilante
Este mesmo ano doente
Fruto fantasma que resvala
Entre as mãos do século
Ano de medo
Tempo de sussurro e mutilação
Ninguém tinha rosto aquela noite
No “underground” do Rio
Ninguém tinha sangue
Nem nome nem espírito

Já não há prazer
Já não há dor
Nem amor
Corpo e espírito afastam-se
Sem invenção
Solidão sem letras
Poetas longínquos
Sem mãos de escrever
Tristeza e paixão

Mutilação

Rose de Castro
A ‘POETA’
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